Programa da Prefeitura leva inclusão social a pessoas com deficiências


Segundo o último censo do IBGE, em 2000, quase 25 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência, sendo que a imensa maioria diariamente enfrenta diversos obstáculos, que vão desde atravessar uma rua ou embarcar num ônibus não adaptado até o preconceito na hora de buscar um emprego ou ser matriculado numa escola. Para enfrentar essa realidade, a Prefeitura do Rio de Janeiro desenvolve o 'Programa de
Reabilitação Social Baseada na Comunidade' (RBC), uma iniciativa pioneira da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência. As equipes vão até as residências das pessoas que têm algum tipo de deficiência e moram em localidades de baixa renda, para realizar uma série de atividades que possibilitam maior qualidade de vida e a inserção no mundo do trabalho. O programa nasceu na década de 90 e beneficia atualmente cerca de 3.000 pessoas com deficiência e também suas famílias por toda cidade. O RBC conta com 23 equipes multidisciplinares, formadas basicamente por fisioterapeuta, fonoaudióloga, psicóloga, assistente social e terapeuta ocupacional. As equipes realizam orientações domiciliares, mostrando como a família pode auxiliar essa pessoa no dia-a-dia; encontros com a comunidade para reforçar a valorização desse individuo e até oficinas que visam não apenas ao desenvolvimento físico e emocional do usuário do RBC, como também à geração de renda. Zaine Sadala, supervisora da equipe do RBC que atua na localidade da Rocinha, em São Conrado, explica que o programa funciona como uma ponte para que esse usuário conheça os seus direitos e tenha acesso aos serviços públicos. Ela salienta que essa “porta de entrada” possibilita o reconhecimento da cidadania para pessoas que vivem uma realidade de exclusão extrema, causada não apenas pela deficiência, mas sobretudo pelas condições sociais em que estão. – A gente vai aonde os serviços não chegam. Vamos na casa daquela pessoa que mora lá em cima do morro e que é carente de atendimento em saúde, educação e até mesmo de informação – ressalta.
O trabalho tem inicio com um mapeamento do número de pessoas de uma comunidade que tenham algum tipo de deficiência. “Em seguida, a equipe vi de promoção, que inclui questões como educação, saúde, emprego e renda”. A extrema exclusão em que vivem as pessoas com deficiência nas comunidades de baixa renda ganha rosto e corpo em Daniele Dias dos Santos, 23 anos, moradora da Rocinha, que ficou tetraplégica após ser vitima de uma bala perdida na saída de um baile funk. A casa onde Daniele mora com mais quatro pessoas fica numa área de difícil acesso, onde é preciso passar por vielas estreitas e cheias de degraus para chegar. Por causa disso, ela passa maior parte do tempo deitada numa cama hospitalar.
No entanto, a partir do trabalho com o RBC, Daniele descobriu na pintura um meio para expressar seus sentimentos. Usando a boca, a jovem aprendeu a pintar paisagens e naturezas mortas há um ano, e nesse período já teve seus quadros expostos em diversos espaços, sempre orientada pela equipe do programa Zaine lembra que há dois anos, quando a equipe do RBC iniciou trabalho com Daniele e sua família, a saúde emocional e física da moça estava muito abalada.
– Nós a encontramos com muita dor, sem tratamento ou medicação, e por ficar o tempo todo deitada tinha constantes infecções urinárias. Além disso, ela se mostrava muito revoltada – conta a supervisora. Ainda magoada com sua atual condição, Daniele evita ao máximo conversar sobre o tema, mas o colorido dos seus quadros já deixa transparecer que há esperança no futuro.
– Conseguimos que ela recebesse o Bolsa Cidadão, e também  viabilizamos o tratamento dela na ABBR. Agora estamos tentando fazer com que ela se insira da melhor forma na sociedade. Esse é o nosso trabalho – conclui Zaine 

imagem : AF. Rodrigues 

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