Afeto de professores de classe hospitalar da prefeitura fazem do processo de aprendizagem fundamental na recuperação de crianças internas no Hemorio

DSC_0388Toda tarde tia Cláudia e tia Mônica tem uma tarefa especial, dar aula para uma turminha de guerreiros cheia de alegria e vontade de viver: são os alunos da Classe Hospitalar do Hemorio. Meninos e meninas que necessitam passar por longos períodos de tratamento e internação naquela unidade de saúde especializada no tratamento da leucemia. Atualmente existem nove classes hospitalares em toda rede municipal de ensino do Rio de Janeiro, projeto coordenado pelo Instituto Helena Antipof, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Educação.

As classes hospitalares têm o objetivo de fazer com que os alunos não percam contato com o conteúdo pedagógico e principalmente exercem um papel decisivo no âmbito emocional dessas crianças, favorecendo até mesmo no tratamento e na recuperação delas. No caso do Hemorio, por se tratar de um centro de referencia no tratamento de doenças hematológicas, o grupo de alunos atendido é diversificado como explica Claudia Pires, uma das professoras da classe.

- A gente recebe alunos não só do Rio de Janeiro, mas também de outros municípios e até mesmo da rede particular, e alunos com deficiência. Isso faz com que haja permanentemente ajustes nesse conteúdo para atender as necessidades desses alunos, relata Claudia, salientando ainda que são atendidos estudantes de todas as séries do ensino fundamental, da creche ao nono ano.

A educadora destaca que o conteúdo dado procura se aproximar ao máximo ao que esse aluno estaria recebendo em suas escolas de origem. Por isso, segundo ela, é sempre tentado estabelecer uma parceria com essa escola o que na visão dela é indispensável para o êxito do trabalho.

- Quando esse aluno vem da rede municipal de ensino fica mais fácil porque já temos, naturalmente, acesso ao conteúdo da SME. Mas de modo geral, nós sempre entramos em contato com a escola para que ela nos mande os conteúdos trabalhados. E quando a criança deixa o hospital fazemos um relatório para que a escola possa tomar conhecimento do que foi dado, essa troca é vital, concluiu a professora .

Lições de vida

Nas classes hospitalares, as atividades procuram reproduzir ao máximo o cotidiano escolar, o que se torna fundamental para o bem estar emocional dessas crianças. As aulas são realizadas numa sala no sétimo andar do hospital, todas as tardes, com as crianças que podem se deslocar, ou ainda, no horário da manhã nos leitos daqueles alunos que requerem maiores cuidados ou que estão mais fragilizados.

Foto Eliane Carvalho (6)

Mônica José dos Santos, professora que também atua na classe hospitalar do Hemorio, fala sobre seu trabalho como uma experiência enriquecedora tanto no âmbito profissional e, sobretudo no aspecto humano. A educadora relata, de maneira afetuosa, como é gratificante estar contribuindo no processo pedagógico e de vida de seus alunos.

- O nosso trabalho aqui é, antes de tudo, um aprendizado diário para mim. A cada dia temos uma lição de vida, não tem como não se tornar uma pessoa melhor quando a gente conhece o ambiente de uma classe hospitalar. Eu amo muito o meu trabalho e sou apaixonada pelas crianças, disse Mônica.

Além dos benefícios na parte educação, o trabalho das classes hospitalares é fundamental no processo de tratamento e de recuperação dessas crianças. O contato com o universo lúdico, de troca e de aprendizagem fortalece a parte emocional desses pequenos guerreiros. Isso é facilmente notado nos sorrisos e olhares arteiros dessa meninada que apesar de tudo tira nota 10 nos itens animação e bagunça.

Ruby de Jesus Aragão tem 7 anos e é uma das alunas no Hemorio. Ela estuda no Colegio Adventista e frequenta a classe hospitalar nos períodos de internação. Ruby está em tratamento há um ano e meio e além da leucemia tem síndrome de Down.

A mãe da menina, Maria Enildes Souza de Jesus, afirma que o trabalho da classe hospitalar está sendo muito importante em todo o processo de tratamento e recuperação da filha. Maria Enildes lembra que na primeira internação a menina estava muito assustada, já agora ela se mostra mais tranquila, o que se deve muito ao fato de Ruby estar inserida na classe hospitalar.

- Eu gosto muito das professoras Cláudia e Mônica, e vejo que elas interagem muito bem com a minha filha. Elas levantam o astral dela, disse Maria Enildes.
Outro estudante atendido é Charles Almeida dos Santos, 12 anos, aluno do 6º ano da Escola Municipal Getúlio Vargas, em Bangu. Segundo a mãe de Charles, Ivanilda Batista de Almeida, esta é a terceira internação do filho, que em breve receberá alta definitiva. Enquanto nos apresentava as dependências da enfermaria do hospital, Charles falou sobre a expectativa da alta do tratamento e dos planos para o futuro:

- Quero ser jogador de futebol, afirmou sorrindo.

o exemplo de Charles , da pequena Ruby e , sobre tudo o trabalho das professoras nos revela que sempre há um amanhecer para quem crer e faz com que o sol nasça , mesmo em momentos difíceis. O trabalho das classes hospitalares é, como bem disse a professora Monica, um aprendizado diário, mas também é um jeito muito especial de crer na vida.

Texto: Fabio Fernandes / Fotos: Eliane Carvalho

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