Educação inclusiva. Transformação social


Gostaria de compartilhar com vocês trechos da minha palestra no 5º Simpósio de Cultura Inclusiva, na Arena Cultural Municipal da Pavuna. espero que vocês gostem

Eu confesso: sou um subversivo. Ué, como pode um cara em uma cadeira de rodas, que mal fala, ser considerado “subversivo”? Pois é. A provocação que trago hoje é a de tentar olhar para o processo de inclusão das pessoas com deficiência como uma ação que subverte o humano em relação ao próprio humano. Para entendermos melhor, é preciso dizer que, desde que nascemos, somos enquadrados em uma moldura existencial que mina nossa capacidade de enxergar o outro como um ser único, mas, ao mesmo tempo, semelhante a nós

Em todas as instituições sociais – até mesmo na escola – constrói-se uma estrutura de categorização, de separação e, sim, de exclusão. Assim, ao longo da vida, vamos sendo agrupados entre meninos e meninas, bons e maus, produtivos e improdutivos. Somos domesticados nesse sistema de distorções sustentado pelas instituições. Michel Foucault chegou a eleger a escola como um espaço físico que molda corpos e mentes daqueles que, futuramente, irão perpetuar a mesma estrutura segregacionista. De fato, quando pensamos na escola apenas como instituição – um lugar que aprova quem “aprendeu” e reprova quem “não aprendeu” – tendemos a concordar com Foucault. Contudo, quando olhamos para a escola como um espaço humano, logo compreendemos que a educação pode ser, na verdade, um poderoso instrumento de mudança de paradigmas. É a partir dela que podemos subverter a ordem excludente em direção a uma realidade plural, em que as potencialidades humanas sejam compartilhadas.

Quando enxergamos a escola como um ambiente de trocas e de aprendizado humano, onde potencialidades e saberes de meninos e meninas são desenvolvidos, compartilhados e, sobretudo, vivenciados, percebemos que esse espaço precisa ser vitalmente inclusivo. A ação de educar deve ser um gesto de acolhimento do humano em cada aluno e aluna, tenham ou não necessidades especiais.

A educação inclusiva nasce dessa nova percepção de “escola” enquanto lugar humano – que vai além das estruturas físicas ou institucionais. Uma escola inclusiva não é apenas necessária para estudantes com deficiência, mas para toda a sociedade. Será, sim, por meio de uma escola efetivamente comprometida com a inclusão que poderemos construir uma sociedade que absorva a diversidade como algo que nos enriquece, tanto como indivíduos quanto como coletividade.

Creio que a tarefa mais importante e desafiadora dos nossos dias é construir um mundo mais acolhedor e inclusivo. Não há mais cabimento em manter uma sociedade excludente. Nossa forma de vida precisa, necessariamente, considerar a diversidade. Nesse contexto, nós – agentes culturais e a comunidade escolar – temos um papel crucial. É indispensável trazer para o centro do debate a inclusão das pessoas com deficiência, bem como de todos os segmentos historicamente excluídos.

A escola e a produção cultural são instrumentos vitais para a construção de uma sociedade voltada para o humano, comprometida com a inclusão e com o respeito às singularidades de cada pessoa. Concluo minha fala nesta manhã trazendo o pensamento de Paulo Freire: “Os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” Pois bem, nossa tarefa é criar condições culturais e sociais para que esse “mundo” mostre às nossas crianças que viver em uma sociedade inclusiva não apenas é possível, mas é também necessário.

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