Eu confesso: sou um subversivo. Ué, como pode um cara em uma cadeira de rodas, que mal fala, ser considerado “subversivo”? Pois é. A provocação que trago hoje é a de tentar olhar para o processo de inclusão das pessoas com deficiência como uma ação que subverte o humano em relação ao próprio humano. Para entendermos melhor, é preciso dizer que, desde que nascemos, somos enquadrados em uma moldura existencial que mina nossa capacidade de enxergar o outro como um ser único, mas, ao mesmo tempo, semelhante a nós
Em todas as instituições sociais – até mesmo na escola – constrói-se uma estrutura de categorização, de separação e, sim, de exclusão. Assim, ao longo da vida, vamos sendo agrupados entre meninos e meninas, bons e maus, produtivos e improdutivos. Somos domesticados nesse sistema de distorções sustentado pelas instituições. Michel Foucault chegou a eleger a escola como um espaço físico que molda corpos e mentes daqueles que, futuramente, irão perpetuar a mesma estrutura segregacionista. De fato, quando pensamos na escola apenas como instituição – um lugar que aprova quem “aprendeu” e reprova quem “não aprendeu” – tendemos a concordar com Foucault. Contudo, quando olhamos para a escola como um espaço humano, logo compreendemos que a educação pode ser, na verdade, um poderoso instrumento de mudança de paradigmas. É a partir dela que podemos subverter a ordem excludente em direção a uma realidade plural, em que as potencialidades humanas sejam compartilhadas.
Quando enxergamos a escola como um ambiente de trocas e de aprendizado humano, onde potencialidades e saberes de meninos e meninas são desenvolvidos, compartilhados e, sobretudo, vivenciados, percebemos que esse espaço precisa ser vitalmente inclusivo. A ação de educar deve ser um gesto de acolhimento do humano em cada aluno e aluna, tenham ou não necessidades especiais.
A educação inclusiva nasce dessa nova percepção de “escola” enquanto lugar humano – que vai além das estruturas físicas ou institucionais. Uma escola inclusiva não é apenas necessária para estudantes com deficiência, mas para toda a sociedade. Será, sim, por meio de uma escola efetivamente comprometida com a inclusão que poderemos construir uma sociedade que absorva a diversidade como algo que nos enriquece, tanto como indivíduos quanto como coletividade.
Creio que a tarefa mais importante e desafiadora dos nossos dias é construir um mundo mais acolhedor e inclusivo. Não há mais cabimento em manter uma sociedade excludente. Nossa forma de vida precisa, necessariamente, considerar a diversidade. Nesse contexto, nós – agentes culturais e a comunidade escolar – temos um papel crucial. É indispensável trazer para o centro do debate a inclusão das pessoas com deficiência, bem como de todos os segmentos historicamente excluídos.
A escola e a produção cultural são instrumentos vitais para a construção de uma sociedade voltada para o humano, comprometida com a inclusão e com o respeito às singularidades de cada pessoa. Concluo minha fala nesta manhã trazendo o pensamento de Paulo Freire: “Os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” Pois bem, nossa tarefa é criar condições culturais e sociais para que esse “mundo” mostre às nossas crianças que viver em uma sociedade inclusiva não apenas é possível, mas é também necessário.

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