Hoje, vivemos um momento muito delicado em relação às pessoas com deficiência. Percebo, de forma clara, que está ocorrendo um sequestro político da temática inclusiva. Obviamente, os "donos" do movimento das pessoas com deficiência sempre tiveram uma tônica no conservadorismo. É fato que os segmentos progressistas da política brasileira nunca viram as pessoas com deficiência como uma parcela da população cujas demandas merecessem ser pontuadas politicamente.
Esse fato sociológico, atrelado a todo o histórico de falta
de legitimidade dos que se apropriaram da temática inclusiva, nos ajuda a
entender a superficialidade - e, por que não dizer, a hipocrisia - que
caracteriza o chamado movimento inclusivo. Que, cá pra nós, pode ser tudo,
menos inclusivo.
Só para ilustrar, vou citar o exemplo do segmento autista. É
óbvio que há um imenso hiato entre a realidade de grande parte das pessoas
autistas e o século XXI. A imensa maioria dos autistas ainda vive sem as
mínimas condições de saúde, totalmente excluídos do sistema de educação que
pretende ser inclusivo e em muitas outras realidades excludentes que precisam
ser revertidas.
O problema é que a sociedade brasileira está longe de
verdadeiramente querer reverter esse cenário. Somos uma sociedade do
"parece, mas não é": o brasileiro precisa parecer inclusivo, isso
anestesia a realidade, "nos pacifica sobre o barril de pólvora" e o
mais cruel é que isso é bom para os caciques do movimento das pessoas com
deficiência.
O movimento das pessoas com deficiência sempre foi ocupado
por vozes que não são as das próprias pessoas com deficiência. Eu gosto de
dizer que a inclusão é um trem que trafega sobre os trilhos construídos pela
exclusão. Ou seja, há uma grande diferença entre o discurso inclusivo e a
realidade de exclusão que grande parte da população de pessoas com deficiência
vive no contexto social brasileiro.
Como conviver com o dado real de que menos de 30% das
escolas públicas brasileiras têm instalações acessíveis para receber alunos com
necessidades especiais? O debate da chamada educação inclusiva ainda não foi
capaz de gerar um compromisso real, prático, em autoridades educacionais. A
inclusão é sempre um projeto "nobre", mas que pouco gera efeitos
efetivos. Enquanto isso, a gente "resolve" o tal problema fazendo
vídeos para o TikTok.
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