A acessibilidade dos espaços urbanos, dimensiona
bem o compromisso ético que uma sociedade tem, precisa ter, como um dos
direitos mais elementares do cidadão: ir e vir. A forma, através das ações do estado,
organizamos o espaço urbano : as ruas, os prédios públicos e privados, revela
como consideramos, ou desconsideramos, a cidadania do indivíduo perante aquela
coletividade. É vital pensar na temática
da inclusão das pessoas com deficiência e, por consequência em politicas
públicas que possibilitem o acesso desse segmento da sociedade, como um fator
de amadurecimento da cidadania do povo brasileiro e de qual país queremos ser quando
crescermos. A minha entrevistada de hoje, a arquiteta e urbanista: Mônica
Flores, é uma das pessoas que melhor
representa um grupo de brasileiros que pensam o Brasil para todos.
Mineira, da cidade de Ouro Preto , Mônica tem
uma importante atuação no campo da acessibilidade urbana tanto no ambiente
acadêmico, como no implemento de projeto de politica pública que busca tornar o
espaço urbano mais democrático e acolhedor, ela começa relatando que começou a
trabalhar, com maior afinco, com a questão da qualidade e acessibilidade do espaço
urbano ao longo da sua graduação no curso de Arquitetura e Urbanismo, realizado
na cidade de Niterói.
“Eu,
nasci em Ouro Preto, em Minas Gerais e saí para cursar Arquitetura e Urbanismo,
na cidade de Niterói onde me identifiquei com a temática inclusiva. “Relata, Mônica.
Hoje a jovem arquiteta é uma das vozes
mais atuante na temática do reconhecimento da cidadania das pessoas com
deficiência e da necessidade de se conceber estruturas sociais que insira-se essas
pessoas nos espaços urbanos e sociais do país. Ela lembra que ao longo da sua
vivência profissional teve oportunidade de trabalhar na Coordenadoria de
Acessibilidade de Niterói , onde participou da implementação de projetos que
deixaram um legado inclusivo e de acessibilidade na cidade de Arariboia.
-“Na Coordenadoria de Acessibilidade de
Niterói, onde tive o primeiro contato a acessibilidade, atuei na Divisão de
Arquitetura, em diversos trabalhos na cidade, destacando o projeto Praia
Acessível, situado na Praia de Icaraí; o Mapeamento das situações das calçadas
do município, vistorias de Acessibilidade nas escolas da Rede municipal,
vistorias em imóveis comerciais e residenciais e outras ações de
conscientização.” Revela ela.
A construção de uma sociedade inclusiva, assim como de uma cidade que acolha em seus
espaços urbanos é fruto do engajamento de todos os entes da sociedade, Mônica Flores
salienta a importância do papel dos prefeitos como personagens que precisam
promover e apoiar as políticas urbanas que acolham a visão inclusiva na face
concreta do espaço urbano. Nesse cenário
, a arquiteta contextualiza a acessibilidade como uma concretude de um
movimento ético da sociedade em direção ao acolhimento real das diferenças.
-“Um dos pontos cruciais para a
implementação de políticas públicas voltadas para a inclusão e a acessibilidade
vêm do interesse direto do gestor do município. O prefeito é a peça fundamental
para que as ações sejam canalizadas em favor da população, principalmente as
pessoas com deficiência. E, para que se compreenda a importância da
acessibilidade para a cidade é necessário haver a sensibilização de todos.
Temos exemplos de municípios que abraçaram a causa e se dedicam para elas se
tornem referência em acessibilidade e inclusão, destacam-se as seguintes
cidades: Uberlândia, Niterói, Socorro, São Paulo, Mariana, dentre outras.” Reflete
ela.
Outra vertente que Mônica avalia como
imprescindível para o fortalecimento de um cenário social inclusivo é o engajamento
da sociedade civil. A vivência que a urbanista teve em Niterói, na Associação
Niteroiense de Deficientes Físicos é um bom exemplo disso, na visão dela, de
como o terceiro setor pode ter um papel de protagonismo na postulação de
politicas inclusivas nas cidades. É nítido na fala da arquiteta, Mônica Flores
que a construção de uma sociedade inclusiva é e precisa ser fruto de um
somatório de compromisso ético, em torno do reconhecimento da necessidade de se
costurar estruturas sociais e de políticas públicas que levem em conta as
necessidades das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.
-“A acessibilidade é a possibilidade e a
condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização segura e
autônoma de edificações, espaços, mobiliário, equipamento urbano e demais
elementos. No âmbito do espaço urbano, a
acessibilidade cria possibilidades
e condições para que a população se aproprie do espaço de forma segura e autônoma, principalmente as
pessoas com deficiência e mobilidade reduzida (cerca 14% da população). Uma
cidade que se preocupa em tornar e adaptar os seus espaços para eles sejam mais
acessíveis, consequentemente fará com que sua população tenha mais condições e
possibilidades de usufruir dos espaços, (...) em 2014 tive a honra de conhecer
a Andef, onde participei da obra de transformação de uso e Retrofit de um dos
seus ginásios, transformando-o num centro de reabilitação avançada para pessoas
com deficiência, com salas de fisioterapia, hidroterapia, fonoaudiologia,
psicologia, brinquedoteca, salão de beleza e outros.” Relata a Urbanista.
Atualmente, Mônica tem se dedicado a
demostrar a necessidade de se construir soluções arquitetônicas que tornem as cidades
históricas de Minas Gerais acessíveis, conciliando o respeito as caraterísticas
morfológicas dessas cidades com a percepção de que é preciso criar meios e
instrumentos que possibilitem o acesso de turistas com deficiência e mobilidade
reduzida. “É possível sim adaptar os espaços, edificações, mobiliários, em
equilíbrio tornando os acessíveis”, Mônica ainda reflete sobre a importância de tornar as cidades
históricas capazes de acolher também as pessoas com deficiência em seu contexto
urbano, relevância que se afirma ainda mais quando olhamos para essas cidades
como páginas vivas da nossa história, história essa que precisa ser
compartilhada e, sobretudo, vivenciada por todos.
Uma representação da importância de se
debater a acessibilidade nas cidades históricas foi a criação do I Painel de
Acessibilidade nas cidades históricas mineiras. O evento integrou a programação
do Festival de Turismo em agosto desse ano. A arquiteta e urbanista, Mônica Flores,
que participou da como painelista|colaboradora e destacar a importância de se debater a
temática da acessibilidade como uma forma de incremento de novo público turístico
, rompendo com a visão equivocada de que a acessibilidade não pode ser
economicamente atraente.
“I
Painel de Acessibilidade nas cidades históricas mineiras, em
Ouro Preto eu trouxe algumas das soluções factíveis dentro do âmbito das
intervenções equilibradas no Patrimônio e Acessibilidade, portanto existem
vários exemplos no mundo e também no Brasil, como o Pelourinho na Bahia, o
Centro Cultural dos Correios de Niterói, e outros. Eu, particularmente fiz um
trabalho acadêmico profundo em um conjunto tombado com soluções factíveis de
Acessibilidade em Niterói, no Forte do Gragoatá, respeitando cada elemento da
fortaleza. A proposta não vem para descaracterizar a cidade, apenas é uma forma
de criar possibilidades e condições para que as pessoas com deficiência e
mobilidade reduzida possam acessar também esses espaços. O direito aos bens
culturais é assegurado a todos e todas.’ Concluir a arquiteta
e urbanista Mônica Flores.
O diálogo com a jovem, arquiteta e
urbanista Mônica Flores é um bálsamo de esperança. Por isso que eu faço questão
de trazer a fala dela numa matéria um pouco maior do que as que costumo postar,
me é muito caro, importante , dizer que há sim uma elite acadêmica compromissada
com a construção de pontes que leve o Brasil a ser, de fato um país desenvolvido
e, sobretudo inclusivo. Quando a gente defende um maior protagonismo da
academia, que o conhecimento produzido em nossas universidades provoque novas políticas
públicas e faça a diferença na vida da população, é desse Brasil que queremos,
o Brasil que pensa como uma nação acessível, inclusivo, e vê nisso um
instrumento potencializador de uma nação de fato rica. Eu concluo este texto
com uma fala da Mônica que eu não tive coragem de editar e que me comoveu
muito. Com a palavra Mônica Flores:
-“A acessibilidade nas cidades não é
utopia, se levada realmente a sério pelo gestor público torna os seus espaços
mais humanos e inclusivos. Como arquiteta e urbanista, sinto-me responsável por
tornar meus projetos inclusivos, mas também de quebrar um paradigma
arquitetônico, onde muitas cidades inviabilizaram determinados grupos, como o
das pessoas com deficiência, tornando esses espaços excludentes, segregadores e
deficientes. Um dos passos para a Arquitetura Acessível é disseminar a cara de
uma cidade plural, que pensa em todos e todas, respeitando suas limitações
físicas, intelectuais, cognitivas e que produz ambientes humanamente
conscientes, acessíveis, inclusivos e para todos. Para essa tarefa é necessário
que toda a sociedade abrace a causa compreendendo a acessibilidade como quebra
de uma das maiores barreiras existentes, a atitudinal. As atitudes sem dúvidas
fazem a diferença e os bons exemplos se arrastam.’
1 Comentários
Olá Fábio muito obrigada pela honra!!!
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