As pessoas com necessidades
especiais constituem um dos segmentos sociais mais excluídos dos serviços de
saúde odontológica. Na rede de saúde pública da cidade do rio de janeiro, por
exemplo, são praticamente inexistentes os espaços dedicados ao atendimento
dentário de pacientes que, apresentem algum tipo de deficiência . até mesmo na
rede privada raros são os profissionais que se dedicam a cuidar da saúde dentária
desse segmento. Segundo dados do Conselho
Federal de Odontologia, em todo Brasil, o número de dentistas com
especialização em pacientes com necessidades especiais é de apenas 734
profissionais. O dado de 2020, retrata bem a carência que existe no campo da
saúde bucal das pessoas com deficiência. Esse cenário é, ainda mais
preocupante, se consideramos que a falta de atenção com a saúde bucal pode
gerar vários outros problemas de saúde, sobretudo no sistema imunológico.
Sobre o cenário da atenção
odontológica dos pacientes especiais a
gente conversa com a professora de Estomatologia da Universidade Federal Fluminense e,
fundadora do Instituto Rir, doutora Bruna
Lavinas Sayed. Ela começa refletindo que há um profundo abismo entre as
pessoas com deficiência e a assistência odontológica. A falta de profissionais
e espaços dedicados aos pacientes especiais, faz com que as famílias dessas
pessoas percorrem um longo caminho atrás de atendimento odontológico para essa
pessoa. Em muitos casos quando encontram uma entidade , seja publica ou
privada, que ofereça atendimento odontológico , a saúde oral dessa pessoa já
está gravemente deteriorada
‘Como sabemos
são raros os serviços públicos e privados que ofereçam atendimento bucal a
Pacientes com Necessidades Especiais. Essa realidade é presente em todo Brasil.
Por exemplo: o município do Rio de Janeiro, com aproximadamente 6 milhões de
habitantes, 828 mil cariocas, ou 15% da população, declararam possuir alguma
deficiência. sendo assim, muitos pacientes rodam em diversos serviços, ficam
frustrados por não conseguirem resolver o problema dentário, criando um falso
conceito que não tem jeito, que não é possível atender o paciente ’ Afirma Bruna.
‘Ainda existem diversos
pacientes, que precisam de um atendimento odontológico especial como os
oncológicos, psiquiátricos, autistas, sindrômicos, hepáticos, transplantados,
entre outros. Sabemos que estes pacientes apresentam elevado índice de doenças
bucais, como cárie e periodontal, devido à dificuldade em realizar a higiene
oral, alta ingestão de alimentos e bebidas contendo sacarose, disfunção na
mastigação e na deglutição, má oclusão, respiração bucal e diminuição do fluxo
salivar em decorrência dos medicamentos. A situação se agrava devido as
limitações motoras, número insuficiente de profissionais especializados para
atendê-los, falta de motivação e treinamento dos responsáveis e cuidadores na
atenção com a higienização bucal, assim como a significativa ausência de
programas que reforcem a necessidade de cuidados preventivos e avaliem o
impacto na qualidade de vida dos pacientes e seus cuidadores.’ Informa ela.
Esse somatório
de fatores, elencado por Bruna faz com que as pessoas com deficiência seja um
dos segmentos que mais careça de um atendimento preventivo/ permanente quanto
se trata de saúde bucal. Como professora do curso de odontologia, a doutora
Bruna reflete sua preocupação com a formação
de novos cirurgiões-dentistas especializados e, sobretudo sensíveis as
necessidades desse pacientes . A doutora Bruna Lavinas relata que um dos grandes entraves na formação de novos
dentistas , com especialização em paciente com necessidades especiais está na
grande falta de informação de existência desse paciente e de suas necessidades.
não há o empenho do universo acadêmico em formar profissionais sensibilizados e
devidamente capacitados para atender as demandas desses pacientes.
‘Sou docente
da graduação e da pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal
Fluminense, e é com muito pesar que não vejo a disciplina de forma obrigatória
na minha Universidade. A partir da luta de uma grande colega, professora Flávia
Maia, ela conseguiu inserir a disciplina em forma de estágio; o que já
significa uma grande conquista. Mas, isso não é uma realidade na minha
Universidade, e sim, uma realidade do país, onde poucas faculdades contêm a
disciplina de forma obrigatória. Assim, faço uma pergunta: Como despertar
interesse de algo que o aluno não conhece? Não vivencia? É uma luta árdua, onde
tento dar palestras, levar os alunos para fazer estágios. é de vital
importância proporcionar o contato dos graduandos com este universo tão amplo e
desassistido.’ Avalia ela.
Para tentar amenizar
este quadro de desassistência odontológica em relação as pessoas com
deficiência e patologia complexas a doutora Bruna, juntamente com sua colega de
faculdade, doutora A Bruna é Michalski, fundaram o Instituto Rir que funciona
na zona sul do rio de janeiro.
‘O Instituto
Rir tem o foco principal em atendimento ambulatorial, domiciliar e hospitalar
na área de Odontologia para pacientes com necessidades especiais. Toda
estrutura foi planejada para ter acessibilidade, onde estamos em um prédio
médico, com estacionamento, cadeira de rodas, segurança e funcionamento 24
horas. Tudo foi pensado para atender com segurança, respeito e excelência todas
as pessoas com necessidades especiais. Marca forte do Instituto também é se
destacar no ensino e pesquisa.’ Afirma a doutora.
Bruna diz
ainda que apesar de todo cenário de dificuldade para tornar o tratamento
odontológico acessível as pessoas com deficiência, atualmente há uma gama de
recursos e técnicas que facilitam muito o atendimento desse paciente. o grande
desafio é fazer com que esses recursos cheguem a um número maior de pessoas que
necessitam desse atendimento.
‘Um ponto
importante, é que de forma bem silenciosa, já está ocorrendo a mudança de
mentalidade do tratamento curativo para o preventivo. Desta forma, observamos
que se o paciente faz um tratamento preventivo, reduz a chance de procedimentos
mais invasivos, que poderiam culminar no uso de algum tipo de sedação, incluído
anestesia geral, sedação profunda. Além disso, Hoje evoluímos muito na forma de
comunicação com os outros profissionais que assistem o paciente. Além disso,
novas técnicas de gerenciamento comportamental foram introduzidas, além dos
outros tipos de sedação, como a sedação oral, inalatória e venosa. Toda essa
estrutura técnica e de conhecimento, nos permitem, trabalhar com segurança e
eficiência no consultório. Entretanto, em alguns casos, a anestesia geral é a
opção mais benéfica para o paciente e família.’ Analisa ela.
A Professora
ressalta, em vários momentos de nossa conversa a necessidade que há de se formar
profissionais cirurgiões-dentistas preparados tanto tecnicamente e,
sobretudo envolvidos eticamente com as
necessidades desse individuo, o compreendo como alguém que merece ser tratado
com carinho e respeito.
‘O atendimento
odontológico a pacientes com necessidades especiais é altamente exigente,
requer muita paciência, habilidade e carinho, pois são indivíduos necessitados
de um atendimento especializado, respeitoso e resolutivo. O êxito também está
relacionado, não só com as realizações de excelentes restaurações e atos
cirúrgicos, mas também, o de levar o paciente a um espelho, e mostrar sua nova
imagem, isto é, uma imagem de saúde bucal em adequadas condições. eu sempre
falo que fazer essa especialidade sem amar é como você vestir 44 e querer
colocar uma calça 40, não dá. Não tem como forçar, entrar nessa área por
questões financeiras; tem que se doar, gostar de estudar muito, amar pessoas,
amar contato com outros profissionais e família.... Enfim, se você ama o que faz,
não tem como dar errado.’ Concluir doutora Bruna Lavinas Sayed.
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