Nesses tempos de uma conjuntura sociocultural empobrecida no panorama da diversidade humana, eu venho trazer uma reflexão que, embora pareça pessoal, diz respeito ao cenário de exclusão cultural que estamos vivendo no Brasil. Eu sou autor de teatro- com muito orgulho- desde 1998. E desde que eu comecei a escrever, dirigir e depois da aula de teatro, eu sempre olhei para o meu fazer teatro como um ato de cidadania. O teatro, a cultura em si, não é outra coisa do que uma janela para segmentos excluídos da sociedade vim à cena.
Foi alimentado por essa certeza que eu, e mais dois amigos, criamos a oficina de teatro inclusivo arte viva, há mais de 20 anos. Nesse período, sem qualquer subsídio do Estado, a gente fez do teatro um instrumento de inclusão social para pessoas com deficiência carentes. O fato de nunca ter ‘mamado’ nas tetas de nenhum governo, me confere alguma autoridade para ratificar minha posição de indignação diante ao que se está fazendo com as fontes de fomento de cultura. É sim obrigação do Estado dá condições para que a pluralidade cultural possa existir. É sim, obrigação do Estado fomentar ações que promovam o desenvolvimento humano.
A estruturação de uma sociedade inclusiva e democrática passa fundamentalmente pela formação cultural, no estimulo do humano. Em fim, se desejamos ser pessoas inteiras temos que nos nutrir como individuo cultural – individuo capaz de se alimentar e produzir uma nova humanidade, que seja capaz de trazer à cena todos. Assim, quando se fomenta um projeto cultural se está estruturando as bases de uma sociedade soberana e acima de tudo voltada para o indivíduo, para o desenvolvimento humano social de seu povo.
Inclusão cultural x representação social dos indivíduos com deficiência
Criar ferramentas para que a pessoa com deficiência se expresse, no cenário cultural, é possibilitar que essa pessoa exista de forma efetiva no seu núcleo social. Quando valorizamos a fala dessa pessoa na perspectiva do espaço lúdico da arte estamos criando pontes para que esse indivíduo exerça o protagonismo, tanto no âmbito simbólico, da expressão de seus desejos, sonhos e vontades, como no âmbito do real. Essa ponte que a vivencia de trabalhos como o que realizamos na oficina de teatro inclusivo arte viva é um espaço rico para o efetivo exercício da cidadania da pessoa com necessidades especiais. Esse avanço é vital para que compreendamos a inclusão com um processo mais amplo e profundo em que não se conclui quando ‘colocamos’ as pessoas com deficiência ‘para dentro ‘da escola, da comunidade. mas sim, quando esse processo inclusivo resulta em uma mudança de visão a respeito desse indivíduo. nesse sentido o protagonismo cultural das pessoas com deficiência assumi um papel vital na consolidação da cidadania dessas pessoas.
O que trabalhos como o da Oficina de teatro inclusivo arte viva busca realizar vai ao encontro da reversão desse cenário. É importante termos em vista que o exercício do protagonismo cultural significa a conquista de um espaço único para a pessoa com deficiência, significa ter uma autonomia que sempre foi furtada desse indivíduo, uma autonomia que está além das limitações físicas e sensoriais que essa pessoa possa ter. a partir do instante em que essa pessoa torna-se o ator principal de sua história, se cria condições, reais, para que ele tenha voz ativa no seu contexto familiar, comunitário e , por conseguinte, na sociedade.
É fundamentado nestes argumentos que me posiciono , como contribuinte- que colabora com os impostos que pago, para o Estado, como cidadão do Estado de direito , com a legitimidade de ser uma pessoa com deficiência, e com a experiencia de mais de 20 anos de atuação cultural, para exigir que os governantes- meus funcionários- respeitem e possibilitem condições efetivas para que todo o setor cultural possa produzir. Nos respeitem.
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